VII Aniversário da Unidade de Cuidados na Comunidade de Castelo Branco

” (…) Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades. (…)”

Luís Vaz de Camões, in “Sonetos”

Artigo de opinião

A Unidade de Cuidados na Comunidade de Castelo Branco (UCCCB) sediada no Centro de Saúde de S.Tiago em Castelo Branco, comemora hoje, dia 3 de fevereiro de 2021 o seu sétimo aniversário.

Em oposição ao sucedido nos aniversários anteriores, este é o primeiro que não será comemorado em proximidade  com os utentes e a comunidade da nossa área de abrangência, devido à pandemia de SARS-CoV-2 (Covid 19).

Permita-me o leitor a liberdade de efetuar uma breve resenha histórica:

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o primeiro contágio provocado pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) e que evoluiu para Covid 19 ocorreu na China, no dia 8 de dezembro de 2019.

Em meados de janeiro de 2020, surgiu a primeira declaração das autoridades portuguesas sobre o novo coronavírus. Na época, e baseando-se  nas informações provenientes da China, estimaram que o surto estava contido e que uma eventual propagação em massa no nosso país não era uma hipótese no momento a ser equacionada.

Tinha decorrido pouco mais de um mês quando o Diretor-Geral da OMS, informou que o mundo tinha de se preparar para uma “eventual pandemia” do novo coronavírus.

E, no dia 11 de março de 2020 a OMS  declarou  pandemia  justificando com:

níveis alarmantes de propagação e inação. Podemos esperar que o número de casos, mortes e países afetados  aumente.  Os países podem ainda mudar o curso desta pandemia se detetarem, testarem, tratarem, isolarem, rastrearem e mobilizarem as pessoas na resposta.

Diretor-Geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus

O mundo caiu em si.
A pandemia era algo novo, com a qual tivemos de nos habituar a viver.

Durante a pandemia, em Portugal, à semelhança do que aconteceu por todo o mundo, muitos contraíram a doença, muitos morreram, muitos perderam os seus postos de trabalho, e muitos viram os seus períodos de trabalho reduzidos ou suspensos. Neste quadro social, económico e de saúde pública muito difícil, o governo e os cidadãos foram forçados a reinventarem-se.

As actividades do quotidiano tiveram de ser rapidamente alteradas e reorganizadas, quer a nível do posto de trabalho, da educação, do convívio familiar e das relações sociais, permitindo que fosse possível “continuar de uma forma diferente”, representando este “o nosso novo normal”.

Tendo como prioridade a saúde e a preservação da vida humana, a atenção acrescida para com os grupos de maior risco e vulnerabilidade foi notória por parte dos profissionais de saúde, mas também pela sociedade civil.

Vivemos dias tenebrosos que certamente não se apagarão da nossa memória.

O distanciamento social, ao forçar uma drástica mudança das rotinas “do nosso passado”, exacerbou os problemas psicológicos. Tentar harmonizar o tempo com as atividades que temos de realizar, sob bombardeamento diário de informações e desinformações, levou muitos cidadãos a desenvolver comportamentos anormais, transtornos e até mesmo vícios, expondo-os a um descontrolo emocional.

Desde o início da pandemia que são relatadas situações de crianças, adultos e idosos com um sofrimento psicológico.
Longos e fatigantes são os dias em confinamento e isolamento social, que acarretam consigo dificuldades e dúvidas dantes quase impercetíveis, devido ao ritmo acelerado que vivíamos.
Agora, demonstram-se cada vez mais evidentes, implicando também um esforço acrescido dos profissionais de saúde no acompanhamento e prestação de cuidados de forma não presencial a estes cidadãos.

Nós, profissionais da saúde e seres humanos, enfrentamos desde o primeiro dia esta pandemia.
Vivenciamos um misto de responsabilidade acrescida, stress e medo, estando expostos a todo o tipo de contaminação, com inúmeros cidadãos a necessitar da prestação dos nossos cuidados, não sendo por isso surpresa que muitos estejamos com a saúde mental fragilizada.

Desconhecemos quando acabará a pandemia, mas estamos cientes que o término deste ciclo será sucedido por uma série de novos desafios. São já notórios alguns dos seus efeitos, que irão perdurar, e para lidar com eles será imprescindível uma gestão eficiente e com inteligência emocional.

Os valores da solidariedade e da empatia têm de ocupar o espaço na sociedade que lhes deveria ter sido sempre reservado, ultrapassando preconceitos, de forma a minimizar os efeitos nefastos da pandemia.

E quando tudo isto terminar, quem sabe, talvez todos aprendamos o verdadeiro significado de imparcialidade.

Na qualidade de coordenadora da Unidade de Cuidados na Comunidade de Castelo Branco (UCCCB), agradeço a todos os utentes, parceiros da sociedade civil e aos colaboradores da UCCCB, por todo o esforço, dedicação e trabalho  desenvolvido no combate a esta pandemia.